Gostinho do Amor não é inovador e mesmo assim te envolve
Confesso que assisti Gostinho de Amor inteiro em dois dias! Não porque é revolucionário ou surpreendente, mas porque às vezes você precisa daquele dorama que não vai te dar ansiedade sobre o destino dos personagens.
Lançado em maio, a série sul-coreana já conquistou o topo da Netflix Brasil. A premissa é simples: Han Beom-woo (Kang Ha-neul) é um herdeiro arrogante que precisa administrar um restaurante no interior, onde conhece Mo Yeon-joo (Go Min-si), uma chef apaixonada pela tradição culinária local. É familiar? Muito. Funciona? Infelizmente, sim.

Essa formula a gente já conhece
Você não vai encontrar nada de inovador em Gostinho do Amor. Pelo contrário, é mais uma narrativa comum em enemies to lovers (que a gente costuma amar mas que é sempre muito previsível).
Você já sabe o que vai acontecer: eles vão se odiar no começo, vai rolar uma mentira (sempre rola), eles começam a se aproximar, parece que tudo vai dar certo, mas ai ela vai descobrir e ficar brava, ele vai correr atrás, e no final tudo se resolve com um abraço cinematográfico.
Não que exista algum tipo de problema com essa narrativa, mas ela é tão batida que seria interessante ver algo diferente rolando ali. Sabe quando você está assistindo e pensa “cara, se fosse na vida real, essa pessoa não voltaria tão fácil assim”? É essa falta de realismo emocional que me incomoda bastante ao longo da série e que poderia facilmente ter sido melhor trabalhada. As pessoas não perdoam tão rápido, não confiam de novo do nada.
A série também sofre com sua própria brevidade. Dez episódios são insuficientes para desenvolver adequadamente todas as tramas apresentadas. O final especialmente parece apressado, como se os roteiristas tivessem percebido que o tempo estava acabando e precisassem resolver tudo rapidamente.
Alguns conflitos mereciam mais tempo para amadurecer, e as histórias dos personagens secundários – que são genuinamente interessantes – ficaram subdesenvolvidas. Com dois episódios adicionais, a narrativa teria respirado melhor e as resoluções soariam menos forçadas.

Onde a série realmente acerta
Preciso ser justa: o elenco de apoio salva muito desta produção. Kim Shin-rok, Yoo Su-bin, Hong Hwa-yeon e Bae Na-ra têm personalidades muito mais interessantes que o casal principal. Teve momentos em que me peguei mais investida nas histórias paralelas do que no romance central.
Esses personagens trazem humor genuíno e, surpreendentemente, mais profundidade emocional. Suas interações dão ritmo à narrativa e enriquecem o ambiente do restaurante de forma orgânica. É meio irônico quando os coadjuvantes são mais carismáticos que os protagonistas que deveriam carregar a história.
A produção também merece créditos pela ambientação. As cenas culinárias são bem executadas, e você realmente acredita naquele restaurante aconchegante no interior. É o tipo de lugar onde você gostaria de fazer uma refeição.

Vale o investimento do seu tempo?
Gostinho de Amor é entretenimento confortável. Se você está procurando algo para relaxar após um dia difícil, vai funcionar perfeitamente. Se espera ser surpreendido ou desafiado narrativamente, talvez seja melhor procurar outras opções.
Assisti sabendo exatamente o que encontraria e, mesmo assim, me envolvi, na medida do possível. Há algo reconfortante em histórias previsíveis quando você está no humor certo para elas. É como comfort food audiovisual – não é gourmet, mas satisfaz quando você precisa.
Só fica aquela sensação de oportunidade perdida. Com tanto talento envolvido na produção, seria interessante ver os criadores se arriscando mais, explorando nuances do gênero em vez de apenas reproduzir fórmulas seguras.
Afinal, até as receitas mais tradicionais podem se beneficiar de um tempero novo.
Gostinho de Amor está disponível na Netflix.
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