Caos de Destruição apresenta ação sem freio e história sem norte
Nos primeiros 5 minutos de filme surgiram duas dúvidas em minha cabeça e sigo me questionando até o momento da escrita desta crítica. Afinal, quantas balas cabem em uma arma? Quantos cartuchos um ser humano consegue carregar?
Caos e Destruição, novo filme da Netflix estrelado por Tom Hardy, parte de uma premissa interessante: A história de um policial cansado, emocionalmente esgotado, que tenta se redimir de um passado corrupto em meio a uma cidade mergulhada no crime. Logo de início, o longa sugere que existe uma profundidade maior no personagem de Hardy, apresentando traumas de operações passadas, envolvimento com figuras políticas duvidosas e uma vida de escolhas erradas que agora ele tenta corrigir por amor à sua filha.
Grande potencial, mas…
Mas, se você espera algo dessa promessa de construção de personagem, sinto lhe dizer que você está bem enganado, já que tudo é deixada de lado nos primeiros 20 minutos. O roteiro apresenta o conflito interno do protagonista de maneira rasa: sabemos que ele quer mudar, mas não sabemos até que ponto esteve envolvido com o crime, nem quais riscos reais enfrenta ao tentar se desligar de antigos aliados. Essa falta de profundidade prejudica a força emocional do arco de redenção de Hardy, que poderia ser um dos grandes trunfos do filme.
O enredo se divide em diferentes núcleos, entre eles temos policiais corruptos, gangues asiáticas e conflitos políticos. A intenção era interligar todos os pontos, traumas e relações usando violência e corrupção. A execução, porém, é confusa. Conforme o filme avança, a quantidade de personagens secundários (e descartáveis) cresce tanto que fica difícil entender quem é aliado de quem, quais são as verdadeiras motivações de cada grupo e, principalmente, por que deveríamos nos importar com muitos deles, tudo isso enquanto o filme tenta fazer com que criemos alguma conexão com os personagens e suas histórias familiares.
Em alguns momentos, o filme se parece mais com uma partida de GTA do que com um thriller de ação sério, resumindo tudo em tiroteios infinitos e, como o filme diz em seu título, muito caos e destruição.

Entre erros e acertos!
Se a história se perde em suas próprias voltas, o mesmo não pode ser dito das cenas de ação, pelo menos até certo ponto. As coreografias de combate são bem construídas, especialmente nas cenas protagonizadas por Tom Hardy. Há uma boa variação entre tiroteios intensos (muito intensos) e combates corpo a corpo, que dão ao espectador uma sensação real de impacto. A sequência na boate, em especial, é um destaque: A ambientação, luzes e sons, juntamente com movimentos constantes e lutas criativas criam uma tensão genuína que prende a atenção.
Contudo, o filme não se preocupa em poupar exageros. A partir da metade, o excesso de balas, explosões e inimigos transforma o que era envolvente em algo repetitivo e quase cansativo. Talvez se a quantidade de balas, armas e tiroteios não fosse surpreendentemente exagerada, nós nos cansaríamos mais rápido do filme. A quantidade absurda de munição que os personagens carregam e o número interminável de capangas mortos beira o absurdo, a ponto de o espectador começar a questionar quantas balas cabem, de fato, em uma arma. Além disso, o uso constante e desnecessário de câmera lenta e CGI mal acabado em certas cenas tira a fluidez de momentos que deveriam ser eletrizantes.
O final do filme também deixa a desejar. Em um desfecho pouco convincente, Hardy parece prestes a ser preso, mesmo tendo eliminado quase todos os envolvidos nos esquemas criminosos e contando com o apoio de colegas policiais. A tentativa de criar um “cliffhanger” para uma possível continuação soa forçada e mal encaixada, encerrando a história com mais confusão do que impacto.
Sobre a atuação, Tom Hardy, como já é de se esperar, entrega uma performance sólida. Sua espontaneidade, improvisos e a maneira como constrói suas falas de forma natural conferem ao protagonista uma autenticidade que falta ao restante do elenco e do roteiro. Ele é, sem dúvida, o maior acerto do filme.

Vale a pena assistir?
No geral, Caos e Destruição é um filme que cumpre parcialmente sua proposta: duas horas de ação frenética para desligar o cérebro e se divertir. Apesar dos problemas estruturais, quem busca apenas tiroteios insanos, explosões e cenas de luta bem coreografadas provavelmente vai se entreter.
Porém, para quem esperava algo mais equilibrado entre narrativa e ação, o filme deixa uma sensação de potencial desperdiçado, preso em meio ao próprio caos que tenta retratar.
Caos e Destruição está disponível na Netflix
Caos e Destruição é um filme que cumpre parcialmente sua proposta: duas horas de ação frenética para desligar o cérebro e se divertir. Apesar dos problemas estruturais, quem busca apenas tiroteios insanos, explosões e cenas de luta bem coreografadas provavelmente vai se entreter.